O ensino de Guarani nas escolas paraguaias e a questão do bilinguismo diglóssico: uma interlocução com Bartomeu Melià

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v22i49.882

Palavras-chave:

Paraguai, bilinguismo, ensino Guarani

Resumo

Este artigo analisa o ensino paraguaio com especial destaque para os conceitos diglossia e interculturalidade no âmbito acadêmico. O Paraguai é um país com um aspecto singularmente  relevante, sua população fala majoritariamente guarani, uma língua ameríndia do tronco Tupi. No que diz respeito ao castelhano, possuem um dialeto próprio, espécie de castelhano com resquícios do guarani, chamado espanhol rioplatense. A análise do bilinguismo e as questões do apagamento da língua serão um dos pontos explorados neste artigo. Apesar de culturalmente distintos, ambos os idiomas apresentam a política bilíngue/intercultural como políticas fundamentais e centrais para as escolas indígenas. O que este artigo tenciona, nesse aspecto, consiste em saber se o bilinguismo vivido nas escolas paraguaias não atua como um apagamento dos idiomas indígenas ou da castelhanização guarani. Como afirmou Bartomeu Melià (2010, 2011), o Estado preconiza que as populações nativas sejam alfabetizadas em castelhano, porém, isso não ocorre no caso dos castelhanos falantes que não graduam-se em uma única língua indígena. A interculturalidade remete à troca e conflito entre várias culturas distintas, entretanto, na maioria dos sistemas educativos, tanto no Brasil como no Paraguai as trocas são unilaterais. O castelhano ou português dominante é aprendido sob alto prestígio, enquanto às línguas indígenas cultuam um ensino culturalmente diglóssico. Com base nos pensamentos de Bartomeu Melià, estes e outros aspectos do bilinguismo paraguaio serão enfocados neste artigo.  

Biografia do Autor

Danielle Bastos Lopes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Pós-doutoranda na Universidad Autónoma Metropolitana (UAM). Pós Doutora pela Universidad de Salamanca (USAL). Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em História Social e graduada em Pedagogia pela UERJ. Professora adjunta e Procientista na UERJ. Docente do Programa de Pós-Graduação de Ensino em Educação Básica (PPGEB) na UERJ. Líder do Grupo de Pesquisa Estudos Ameríndios e Fronteiras (GEAF - CNPq).

Paloma Araújo Pontes , Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Formada em Letras - Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), tendo sido bolsista de PIBID, iniciação à docência da UERJ no projeto Pensando Culturas Ameríndias. Docente de Letras – Literatura.

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Publicado

2022-10-24

Como Citar

Lopes, D. B., & Pontes , P. A. (2022). O ensino de Guarani nas escolas paraguaias e a questão do bilinguismo diglóssico: uma interlocução com Bartomeu Melià. Tellus, 22(49), 173–186. https://doi.org/10.20435/tellus.v22i49.882

Edição

Seção

Dossiê Estudos indígenas, políticas curriculares e políticas linguísticas