A política de alfabetização bilíngue: histórico, ações para a formação de professores indígenas e a produção didática

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v20i43.735

Resumo

Seguindo estratégias internacionais desenhadas desde o início do século XX, há no Brasil uma política de Educação Escolar Indígena, fundamentada na interculturalidade, com foco na alfabetização bilíngue. Porém, considerando a diversidade sociolinguística do país, a histórica política de integração e, mais recentemente, o reconhecimento aos processos próprios de aprendizagem, os programas de alfabetização bilíngue requerem iniciativas locais, articuladas com a formação de professores que resulta em produção de recursos pedagógicos diferenciados. Neste texto, apresentamos um histórico da política de alfabetização bilíngue discutindo documentos e encaminhamentos que culminaram na criação da ação Saberes Indígenas na Escola, inaugurando uma produção didática elaborada pelos professores. Os resultados mostram que a produção de materiais nas próprias comunidades, além de considerar as variações dialetais, oportuniza a criação de fecundos espaços de diálogos e pesquisas dos professores indígenas entre si, com sábios mais velhos, envolvendo jovens e crianças sobre questões culturais e ensejando, ainda, diálogos sobre ensino e aprendizagem escolar na comunidade.

Biografia do Autor

Rosangela Célia Faustino, Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Pós-Doutora em Conhecimento e Inclusão Social em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Fundamentos da Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduada em Pedagogia pela Faculdade Instituto Superior de Educação do Paraná (FAINSEP) e em História pela UEM. Professora das licenciaturas de Pedagogia na UEM e Pedagogia Indígena na Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Atua no Programa de Pós-Graduação em Educação da UEM (Mestrado e Doutorado), Linha: Políticas e Gestão da Educação.

Marcos Gehrke, Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO)

Doutor e mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Graduado em Pedagogia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Professor adjunto da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e do Programa de Pós-Graduação em Educação. Coordenador do Curso de Pedagogia para Indígena.

Maria Simone Jacomini Novak, Universidade do Paraná (UNESPAR)

Doutora e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduada em História pela UEM e em Pedagogia pela Faculdade Instituto Superior de Educação do Paraná (FAINSEP). Pró-reitora de Ensino de Graduação da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Professora Adjunta C/TIDE do curso de Pedagogia na UNESPAR. Pesquisadora do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações/Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História (CCH-UEM).

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Publicado

2021-04-26

Como Citar

Faustino, R. C., Gehrke, M., & Novak, M. S. J. . (2021). A política de alfabetização bilíngue: histórico, ações para a formação de professores indígenas e a produção didática . Tellus, 20(43), 117–144. https://doi.org/10.20435/tellus.v20i43.735

Edição

Seção

Dossiê - Produção de material em línguas indígenas e saberes ancestrais